"Dane-se", pensou.

Um de seus traços de personalidade mais marcantes sempre foi a cordialidade, a facilidade de relacionamento interpessoal (o que contrasta com a sua timidez). Sempre partiu da máxima que as pessoas são inocentes até que se prove o contrário...


... E mesmo quando elas provam, e até mesmo se esforçam para fazê-lo, ainda fechava olhos para não ver.

Mas uma coisa é certa, já não é o mesmo que fora outrora. A pilha de decepções fez criar em um ponto de seu coração um buraco negro que não para de crescer e, se não parar, em breve nele caberá toda a humanidade.

Chegou - finalmente, depois de tanto tempo - à conclusão de que não vale à pena dar terceiras e quartas chances. As pessoas não aprendem a não serem estúpidas.

E esse rompimento (ou pelo menos esse desejo de romper) com seu antigo "eu, mendigo de afeto", o fez acordar com novas energias que pretende dispendiar com o que e quem realmente vale a pena.

"Isso não é pra mim" - é a frase que sempre martela em sua cabeça durante os últimos 11 meses, sempre que chega a sequer cogitar qualquer tentativa de aproximação que vá além do fútil.

....


"Fiasco" sintetizaria bem o resumo de sua vida amorosa recente. Desde a sua última decepção, parece ter perdido o trato quando se refere à arte da aproximação.

Como um jogador de xadrez que - mesmo tendo domínio da partida - por preguiça de pensar, ataca precipitadamente e recebe um xeque-mate, ele, por preguiça grita "Xeque" logo no início do jogo do flerte pra acabar logo com a partida.

E como o rei Mitriades, que tomava uma pequena dose de veneno todos os dias para imunizar-se, assim ele vai se contemplando com pequenas derrotas, que no fim acabaram o deixando meio imune. Antes isso a duelar de verdade... e perder.


...


"É bom demais pra ser verdade" - Pensa ele ao se deparar com sua mais nova "oponente". A primeira vez que a viu, julgou ser invisível. Até descobri-la observando-o à distância e resolver dizer oi.

Os fatos fluiam de maneira que convergiam ao sucesso, até que ele declara "Xeque!". A mesma ausenta-se da partida por um instante, e ao retornar ele percebe que as peças permanecem em seus lugares desde então. O jogo acabou por W.O. dessa vez.


...

"Isso não é pra mim" - Conclui ele, fatalmente. E em seguida arruma novamente as peças, preparando-se para o próximo jogo.

Entao, ele decidiu organizar sua vida começando pelos mp3.

insegurança


s. f.,
qualidade de inseguro;
falta de segurança, de firmeza.

...


ansiedade

do Lat. anxietate


s. f.,
dificuldade de respiração;
opressão;
angústia;
inquietação de espírito;
desejo veemente;
impaciência.


...

precipitação

do Lat. praecipitatione


s. f.,
acto ou efeito de precipitar ou de se precipitar;
acto impensado;
pressa irreflectida;
atabalhoamento;


...


fracasso

do It. fracasso?


s. m.,
estrondo de coisa que cai ou se parte;
fragor;
estrépito;
baque;
ruína;
mau êxito;
malogro;
desastre.

Como já foi outrora dito, a quinta feira foi um dia de grande importância para o nosso protagonista.

Era a primeira vez que ele fazia diferente, que focava de fato em um objetivo e agarrava-se a ele como se não houvesse nada mais a que se agarrar (e no fundo há nisso um pouco de verdade).

Em pouco tempo conquistou a confiança e, por que não dizer, o respeito de seus companheiros. E isso enchia seu ego de uma maneira que as vezes transparecia até mais que o necessário.

Talvez isso seja reflexo de seu espírito competitivo. O termo "os melhores" parece atuar como uma espécie de gatilho em sua psique. O que, por outro lado, vai totalmente na contramão de uma de suas características mais marcantes que é a baixa-auto-estima.

Provavelmente, você, caro leitor estará se perguntando nesse momento: "Mas como assim? Um ególatra de baixa-auto-estima? Um inseguro que se acha superior?". E com toda razão! Essa antítese é um dos paradoxos fundamentais de sua personalidade.


...



Pois eis que nesta fatídica quinta, em decorrência de algumas alterações na legislação vigente recebe a feliz notícia de que todos foram contemplados com o almejado "prêmio".



...

A Pirâmide de Maslow é algo que é aprendido logo no início de qualquer curso ou disciplina voltada à administração. Ela teoriza que as necessidades do ser humano podem ser divididas em 5 categorias que são, em ordem de importância:

- Realização
- Estima
- Sociais
- Segurança
- Fisiológicas


Sendo assim, através de um anúncio de sua chefe, o nosso protagonista consegue escalar duas escalas hierarquicas e pular uma (já que socialmente, pelo menos superficialmente, ele sempre foi bem-sucedido) e sentir-se profundamente frustrado por não restar apenas o topo da pirâmide para se sentir realizado. Afinal conseguir o que queria através de uma manobra após ter se esforçado tanto deixou em aberto aquela sensação de dever cumprido mesmo após ouvir de todos "Você mereceu!". Falta algo...



... seria instinto de auto-mutilação demais não ficar feliz?

Durante os dias subsequentes ao último post, aconteceram coisas demais para serem contadas em um único tópico e esse é o motivo real da abstinência.

Sendo assim, tentarei enumerar cronologicamente os acontecimentos, porém, talvez sem tanta riqueza em detalhes. Mesmo porque o meu instinto de auto-preservação (ou o pouco que sobrou dele) não me permite citar alguns pontos fundamentais à variação de humor que culminaram no abandono temporário desse espaço recém-criado.

"A serotonina é um neurotransmissor, isto é, uma molécula envolvida na comunicação entre as células do cérebro (neurônios). Ela é quimicamente representada pela 5-hidroxitriptamina (5-HT), sendo também frequentemente designada por este nome.

Esta comunicação é fundamental para a percepção e avaliação do meio que rodeia o ser humano, e para a capacidade de resposta aos estímulos ambientais. Apesar de serem poucos os neurônios no nosso cérebro com capacidade para produzir e libertar serotonina, existe um grande número de células que detectam esse neurotransmissor. Desse modo, a serotonina desempenha um importante papel no funcionamento do nosso sistema nervoso e existem numerosas patologias relacionadas com alterações na atividade desse neurotransmissor.

A serotonina parece ter funções diversas, como o controle da liberação de alguns hormônios e a regulação do ritmo circadiano, do sono e do apetite, entre outras. Diversos fármacos que controlam a ação da serotonina como neurotransmissor são atualmente utilizados, ou estão sendo testados, em patologias como a ansiedade, depressão, obesidade, enxaqueca e esquizofrenia, entre outras. Drogas como o "ecstasy" e o LSD "mimetizam" alguns dos efeitos da serotonina em algumas células alvo.

No sistema nervoso central, a serotonina tem um importante papel como neurotransmissor na modulação da raiva, agressão, temperatura do corpo, humor, sono, sexualidade, apetite e metabolismo.

Alguns estudos realizados revelaram que variações na região que promove o transporte de serotonina é responsável por até 10% da variação total das posturas relacionadas à ansiedade.

Em geral, os indivíduos deprimidos têm níveis baixos de serotonina no sistema nervoso central. Neste caso, deve se administrar inibidores da recaptação de serotonina pelos neurônios, como no caso de medicamentos à base de fluoxetina, ocasionando numa maior disponibilidade deste neurotransmissor na fenda sinaptica."



Pois é... =)

"Foda-se. Semana que vem eu começo a ir certinho", diz ele (como se fosse a primeira vez que dissesse isso).

Um humor pior que o de que alguém ganhou na loteria e perdeu o bilhete; ansioso como se fosse pegar o resultado do teste de HIV depois de transar sem camisinha com uma prostituta.

"Calor dos infernos", "Porra! Mas já acordou?", "Será que a dor passou? Espero que não seja nada demais"... e vai seguindo o começo de seu dia sem muitas palavras. Melhor ficar calado pra não falar o que não deve.

Algum tempo no computador, esperando a hora de ir trabalhar. Um oNo fundo, aquela esperança, de que enfim o dia em que seu esforço será reconhecido chegou. Mas não apostaria a vida nisso.

Um banho gelado, uma cerveja e musica calma pra relaxar e lá vai ele pra mais um dia...

7:30 da manhã. Celular toca.

"Maldito despertador".

Estava com tanto sono e com tanta pouca vontade de acordar que sequer pressionou o botão de desligar. Manteve o celular aberto, virou de lado e voltou a dormir.

4 horas depois, levanta e como de costume, sente remorso e vergonha de si mesmo por fazer tudo errado. "Maldita insônia", pragueja. Mas seria mesmo a insônia a responsável pelo seu absenteismo à aula?

Desde quando pode se recordar, sempre foi o maior responsável pelos infortúnios aos quais foi submetido no decorrer de sua vida. Como se o instinto de auto-preservação que há em todos os seres não existise em si. Como se precisasse criar obstáculos a si mesmo para se sentir mais orgulhoso de seu sucesso.

O problema é que o sucesso não vem por causa dos obstáculos que ele próprio cria.


Abaixa o volume do computador, pois barulho de manhã o irrita profundamente, reinicia o seu sensacional itautec (pra alguma coisa a inclusão digital tinha que servir) e começa a ouvir as suas bandas preferidas da semana que ele acabou de conhecer; Olha o msn, "offline, droga...".

Olha para as roupas que deixou de molho - "Melhor lavar antes que elas estraguem" - Como odeia lavar roupa...

Lembra do show do opeth ao falar com um amigo distante. Haveria coisa mais sensacional que ter a oportunidade de ver um de seus mais estimados amigos e uma das suas bandas preferidas em um só dia?

Sorri de verdade. Algo raro nos últimos meses, mas que se repetiu algumas vezes nos últimos dias. De onde viria essa "alegria metal melodico"?

Sabe-se, lá.

Era mais uma madrugada rotineira em sua vida e as coisas corriam como de costume.
Logo ao por os pés dentro do cubículo que insiste em chamar de "casa", antes até mesmo de jogar sua mochila em cima da cama, pressionou o botão de ligar do computador, abriu a geladeira e pegou a coisa mais rapida de comer que conseguiu achar (nao que houvesse muito o que procurar na geladeira praticamente vazia).
Antes do barulho de boas vindas do windows, a agua pro café já estava no fogo.

Até aí nada de anormal... com a exceção que nessa ocasião em vez de seguir o que chamava de seu "ritual de preparação para a internet", que consistia em olhar se havia e-mails, fuçar em seu last.fm e navegar pelas comunidades-hotspot do mês; ele resolveu abrir o msn.

"*nhac*" foi a primeira coisa que escreveu. E nesse dia as comunidades do orkut tiveram que esperar e ele não descobriu nenhuma banda nova logo que chegou em casa.

Já havia um certo tempo que ele pensava no tempo que fazia que ele não escrevia nada. Mas seja por preguiça ou por insegurança esse pensamento nunca durou mais que um instante. E teria permanecido assim não fosse a alteração no fluxo comum de sua rotina diária. E após um pequeno "incentivo" vindo da pessoa dona do tal "nhac", ele resolveu ir contra à maxima de que "hoje é um ótimo dia pra deixar pra amanhã o que você não vai fazer nunca" (que praticamente é uma de suas filosofias de vida).

Eis que pouco tempo depois, surgem algumas mal-traçadas linhas em um canto qualquer na internet que certamente ninguém vai ler.

Mas ele sabe que não precisa ser lido. Ele só precisa escrever...